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Chifre que Não Mata, Fortalece

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Sou menina para casar. Sei cozinhar, cantar, tocar violão e fazer boquete. Como boa jornalista, consigo desenvolver uma lauda sobre qualquer assunto. Componho e escrevo cartas picantes quando estou apaixonada. Respeito pai e mãe: ligo para eles todos os dias, mando beijo ao final da ligação e vou visitá-los aos finais de semana. Trabalho para sustentar meus luxos e meus vícios, que nem são tão caros – e nem tão condenáveis – assim. Reservo pelo menos seis horas da minha semana para estudar. Sorrio para as pessoas na rua, dou lugar aos mais necessitados no ônibus, converso com mendigos que me pedem um minutinho de atenção. Sou ótima para fazer piadas comigo mesma. Não tenho frescuras no sexo: negocio um anal e deixo puxarem o meu cabelinho chanel. As mães de todos os meus amigos me acham uma graça. Sou para casar mesmo, gente.

Mas não agora. Por hora, eu sou de ninguém. Se você, seu lindo, viesse me pedir em casamento de joelhos, de 212 men e de aliança na caixinha, eu diria não. Estou na pegada da infidelidade. Estou na onda de deixar minha boceta trair meu coração. Estou experimentando ser infiel comigo mesma – e digo seguramente que essa pitada de sadomasoquismo torna tudo incrivelmente mais delicioso. Batom vermelho, vou de bar em bar, uma cervejinha cá, outra lá. Chego no bonitinho, peço um gole, elogio o estilo, canto uma Elis Regina, levo-o para a minha cama. Ofereço toalha limpinha e chuveiro quente para um banho, e leite com Nescau e pão com requeijão para o café da manhã. Passo número de telefone errado, abro a porta enrolada no edredom e sopro um beijo enquanto ele espera o elevador no saguão. Fecho a porta olhando para trás. E até nunca mais. O coração sai esmigalhado, afinal, eu, antiga romântica à moda antiga, estou provando por A mais B que uma espanhola e um bom rebolado muitas vezes têm mais poder do que uma serenata de amor. Estou me usando no melhor estilo putona dos Jardins. Mas hoje tenho a segurança de dizer que foi isso o que escolhi para mim – pelo menos por hora. Até segunda ordem, sou poligâmica.

Sim, poligamia. Do grego “vários matrimônios”. Várias cópulas, vários beijos, várias pernas, vários lençóis. Não que eu não ache lindo o amor monogâmico e sexagenário dos meus avós. Não que eu não tenha o sonho de um amor de novela. Não que eu não valorize e não acredite na felicidade da união entre você e o seu namorado. Mas é que isso não cabe em mim agora. Sabe sapato apertado? Então, descalcei. Por mais contraditório que possa parecer aos leigos, eu prezo pela fidelidade. E é justamente por defendê-la até a morte que prefiro, por hora, deixá-la repousando na estante. É como aquela roupa bonita, que você só usa em ocasiões especiais porque tem dó de gastar. Pelas esquinas da vida, não encontrei ninguém com quem gastar a minha fidelidade. Se, de acordo com a sabedoria popular, todo mundo foi, é ou será traído um dia, prefiro não fazer parte das estatísticas – ou melhor, prefiro não colocar mais um infeliz no cabide dessa estatística. Até porque, já entrei pro time dos traídos.

Dói, mas passa. E fortalece. Ah, e como. Afinal, o que é o chifre de um veado senão sua arma de defesa – muitas vezes inútil – contra a predação de um leão? Durante as primeiras semanas, o chifre vira estilo de vida. Você internaliza o chifre, chora o chifre, vive o chifre. Chora pelos cantos ao som de Tony Braxton, se identifica com o Bentinho de Machado de Assis, vê “olhos de cigana oblíqua e dissimulada” em todas as fotos que registram o que um dia foi felicidade genuína, duvida até de que dois e dois são quatro. Mas levanta. E quando se levanta, tem dois metros de altura: 1,60 do corpinho que Deus lhe deu, 15 centímetros de salto e 25 centímetros de chifre. Aprende da maneira mais dolorosa que o clichezinho que diz que levam-se anos para construir a confiança e segundos para destruí-la é verdadeiríssimo.

E aí, para todo casal cabe a discussão sobre o que é fidelidade. Se você é o meu parceiro, a única coisa que espero é que fidelidade seja para você o mesmo que é para mim. Porque fidelidade é um acordo. Prometo amá-lo e respeitá-lo por todos os dias de nossas vidas, desde que você também prometa sem fazer figuinhas pelas costas. Ou então não vou cobrar que você coma só a minha boceta de ouro pelo resto dos nossos dias, desde que eu possa cavalgar em outros paus que também me satisfaçam. Preto no branco, acordo selado, contrato assinado – sem cláusulas adicionais, sem entrelinhas, sem margens a interpretações. Se estamos jogando, as regras valem para mim e para você. Porque trair e bancar o espertalhão pode até parecer vantajoso, mas você claramente corre dois riscos. O primeiro é de se arrepender amargamente e ter que conviver com os fardos da sua consciência dia após dia. E o segundo? Bom, deixo que o cornólogo Falcão fale por mim: “você passa a noite fora, e quem é que garante que o Ricardão não come a sua comida e dorme tranquilo no seu colchão?”

Por: Bruna Grotti (jornalista )

Tá com MEDO, por que veio?

O receio de se entregar não fere só a relação. Atrasa a vida sexual e afetiva.
E AÍ, VAI AMARELAR?

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Saíamos juntos havia uns meses. Sexo bom, cerveja e risadas. Dormir de conchinha, conversas sobre a vida e, no dia seguinte, cada um pro seu lado. Sinceramente, eu não pensava em namoro – namoro, com todo o peso que o nome tem. Mas se conquistei a intimidade com alguém interessante, com o humor parecido com o meu, que me satisfazia na cama, era amigo, educado e gentil, tudo tão gostosinho, pra quê ficar caçando na rua?

Notei então o sumiço dele. Não atendia os meus telefonemas, não respondia as minhas mensagens. Muito estranho. Até que um dia, no aniversário de um amigo em comum, ele surge, com uma loira sem graça ao lado. Sem graça mesmo, picolé de chuchu, não é dor de cotovelo. Soube então que era a namorada dele havia dois meses, uma alemã que controlava sua bebida, as partidas de futebol e não gostava de seus amigos.

“O que é isso, companheiro? ”
Foi tudo o que me veio à mente naquele momento.

O climão era evidente, o cara estava sem ambiente, tentando fazer a ponte entre ela e seus amigos, sem sucesso. Sentada à mesa, a menina não conversava com ninguém e pedia para ir embora enquanto todos – eu inclusive, como sempre – papeavam animadamente.

O relato dos amigos confirmava a minha primeira impressão: “Ela não tem nada a ver com ele, é uma chata que não faz o mínimo esforço para se entrosar ”. Eu havia sido trocada por um maço de brócolis.

Meses depois, encontrei-o, sozinho, para ouvir a ladainha: “Acho que não fui legal contigo, eu não estava preparado. Você é uma mulher sensacional, nunca te esqueci”.

Tarde demais. Além de me trocar por um ser inexpressivo, a pior sensação é a de abandono, a de que você é tão insignificante que nem uma satisfação mereceu.

“Não quero mais”, “Quero focar no meu trabalho”, “Conheci outra pessoa”, “Desencanei”, “Você tem bafo”. QUALQUER explicação, uma única frase, mesmo que mentirosa, serviria para eu respeitar a decisão dele e sair fora, mantendo a amizade e lembrando com carinho tudo o que vivemos. Mas tal atitude – ou a falta dela – só fez me afastar, não deixando nenhuma brecha para uma eventual noitada flashback, quem sabe.

A ESTRUTURA, CARO…
Esse é apenas um relato de outros similares que me ocorreram. E minhas amigas não me deixam mentir: toda mulher tem um desses para contar, e é engraçado observar que, salvo muito poucas exceções, a covardia masculina se repete.

Ailton Amélio, professor do Instituto de Psicologia da USP e autor do livro Relacionamento Amoroso (PubliFolha, 304 págs.) dá uma luz: “Tem gente que não tem estrutura para assumir compromisso com parceiro de personalidade igual ou mais forte, daí prefere alguém a quem pode dominar, sobrepor sua personalidade, influenciar”.

COVARDIA ? PREGUIÇA?
Em uma quinta-feira a noite – o Santos tocava 8×0 no Bolívar – recorro ao jornalista Xico Sá, cronista das vicissitudes masculinas, para aliviar minha dúvida: “A fuga e a preguiça de vínculo com qualquer história são características do macho contemporâneo”, disparou.

Não estamos aqui falando de uma relação eterna, mas de experimentar um “plus a mais”, sem correr quando tudo está ficando muito bom.

“O homem se ilude com a solteirice, acha que o barato é catar várias. A grande covardia é sequer experimentar. Tenho amigos de 40 e poucos anos que nunca tiveram a experiência de uma relação minimamente duradoura”, explana Xico.

É disso que estou falando.

O que não me conforma é o fato de os caras acharem que toda mulher, necessariamente, quer namorar, “encoleirar”, submeter o homem.

“Só de pensar em estabelecer uma relação, eles acham que estão condenados, como se toda mulher quisesse casar. As mulheres estão cada vez mais parecidas com a gente, também querem curtir, só que deixam a coisa acontecer. É uma frouxidão sem explicação!”, diz Xico.

Estar com alguém é um exercício de autoconhecimento, de troca, uma experiência para reforçar a autoestima e exercitar o equilíbrio. E leva a transar melhor, claro, já que é fato: homem bom de cama é o que já teve namorada. Porque só com intimidade se conhece as peculiaridades comuns à maioria das mulheres.

“Quem vive na clandestinidade nunca vai saber o que é sexo de verdade. A grande pornografia está na intimidade. Quando a mulher está envolvida, ela é capaz de tudo para lhe dar o maior dos prazeres. E muitos homens desperdiçam isso!”, arremata o cronista.

Há os que têm medo de sofrer. Traumatizados por relacionamentos anteriores, começam a dar desculpas assim que a garota propõe o terceiro encontro, em média. “Estar junto de alguém é negociar a todo momento. E, claro, passar pelo ciúme, medo, abdicação, desgaste e tudo o que um relacionamento a dois pode acarretar. Tem gente que já foi sufocada, já abriu mão de tanta coisa, que não quer passar por isso de novo. Assim, prefere as relações sem compromisso”, explica Amélio.

Como já dizia Vinícius, o amor só é bom se doer. O sofrimento faz parte da vida. Sofrer por sofrer, você também vai sofrer sozinho numa noite gelada, ou na falta de alguém que compartilhe histórias suas de anos atrás. Dormir de conchinha, ter piadas entre si, receber uma massagem naquele ponto específico das costas são recompensas que fazem uma relação mais densa valer a pena.

COMO ARARAS-AZUIS
Darwin que me perdoe, mas todo mundo sabe que a ideia do sexo para a proliferação entre as espécies caiu entre nós faz tempo. Há milênios o ser humano pratica descompromissadamente o sagrado rala e rola, que, além de nos proporcionar o mais arrebatador dos prazeres, também é praticado pelo simples fato de sermos animais gregários: tal como as araras-azuis e os coalas, nascemos para viver a dois. Assim, a formação de casais é universal e inerente à condição humana: não existe sociedade que não tenha sido construída na noção da existência de pares.

Sendo assim, nem eu nem você seremos felizes se fugirmos completamente disso. Eu, por exemplo, já tive a plena certeza de que seria um ser sozinho neste mundo, tendo companheiros esporádicos ao longo da vida. O coração livre não sofre, pensava. A resolução veio de não querer repetir um relacionamento besta, que, embora me trouxesse muito carinho e troca, não me fazia perder os sentidos.

Ainda assim, hoje avalio e vejo o quanto valeu a pena, sobretudo porque me preparou para o relacionamento estável e completo que tenho hoje. Fui lapidada em questões como ceder, compartilhar, cuidar, amar. E se fundamental é mesmo o amor, a fila do banco, a praia, as festinhas e os amigos dos amigos estão aí para jogo.

Agarre-se ao maravilhoso subterfúgio de nossa sociedade moderna – que nos permite experimentar e largar – para justamente aprofundar mais as suas relações.

FORA DO EIXO? YESSS…
Foi numa dessas que eu – independente, escolada e resolvida – me joguei nas graças de um gataço barbudo oito anos mais novo. Desarmada, só fui perceber que não nos desgrudávamos desde o dia em que nos conhecemos quando decidimos morar juntos, dois meses depois. Hoje, ao sentir meu coala macho me segurando, balbuciando juras de amor já caindo no sono, reconheço o quão defensivas e sem sentido eram minhas palavras. E mesmo morrendo de medo – de quebrar a cara, de não dar certo, de me machucar (oito anos mais novo, lembra?) –, sentir-se amada
é a melhor coisa do mundo.

A postura na defensiva é compreensível. Não raras vezes apostamos alto em sentimentos que podem ser turvos e imprecisos. Mas não dá para fazer como no filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e apagar tudo o que você construiu da pessoa que já não quer mais. A vivência dessas experiências precisa ser encarada de outra forma – e não é fugindo de relacionamentos que resolvemos nossas inseguranças. Uma hora encontramos a tampa que fecha a nossa panela.

E foi aí que entendi que o picolé de chuchu tinha algo que eu simplesmente não podia oferecer! O cara não se apaixonou por mim e só não soube como me dizer. Ponto.

O filósofo francês Gilles Deleuze disse uma vez que você só se apaixona por alguém quando capta uma fração de sua loucura. “E todos nós somos meio dementes. Fico feliz em constatar que o ponto de demência de alguém seja a fonte de seu charme”, declarou.

Há quanto tempo você não se apaixona?

Pois mesmo que isso mexa com seu mundo, tire você do eixo, traga sentimentos difíceis como medo, ciúme, obsessão (eu tenho todos eles), não perca a oportunidade. Só aprendendo a lidar com isso seremos seres completos.

Fonte: Men’s Health